Retiro

Paisagem de Formação

 

Este retiro tem duração de duas noites e três dias (incluindo a tarde em que se chega ao lugar).

 

Dia 1

Chegada no fim da tarde; preparação do âmbito.

 

Jantar

Explicações sobre plano do retiro, tônica e forma de trabalho.

 

Leitura em conjunto

As Paisagens e os Olhares

(A Paisagem Humana, Humanizar a Terra, Obras Com- pletas I, Silo)

 

I. As Paisagens e os Olhares

 

1. Falemos de paisagens e olhares, retomando o que foi dito em algum outro lugar: "Paisagem externa é o que percebemos das coisas; paisagem interna é o que filtramos delas com a peneira do nosso mundo interno. Essas paisagens são uma só e constituem nossa indissolúvel visão da realidade."

 

2. Já nos objetos externos percebidos, um olhar ingênuo pode fazer confundir "o que se vê" com a própria realidade. Haverá quem vá mais longe, acreditando que se lembra da "realidade" tal qual se deu. E não faltará um terceiro que confunda sua ilusão, sua alucinação ou as imagens de seus sonhos com objetos materiais que, na realidade, foram percebidos e transformados em diferentes estados de consciência.

 

3. Que nas recordações e nos sonhos apareçam deformados objetos anteriormente percebidos não parece trazer dificuldades para as pessoas razoáveis. Mas que os objetos percebidos estejam sempre cobertos pelo manto multicolorido de outras percepções simultâneas e de recordações que nesse momento atuam; que perceber seja um modo global de estar entre as coisas, um tom emotivo e um estado geral do próprio corpo... Isso, como ideia, desorganiza a simplicidade da prática diária do fazer com as coisas e entre as coisas.

 

4. Acontece que o olhar ingênuo considera o mundo "externo" com a própria dor ou a própria alegria. Olho não só com o olho, mas também com o coração, com a suave recordação, com a temerosa suspeita, com o cálculo frio, com a sigilosa comparação. Olho através de alegorias, signos e símbolos que não vejo no olhar, mas que atuam sobre ele, assim como não vejo o olho nem o atuar do olho quando olho.

 

5. Por isso, pela complexidade do perceber, quando falo de realidade externa ou interna, prefiro fazê-lo usando o vocábulo "paisagem", em vez de "objeto". E com isso dou por entendido que menciono blocos, estruturas e não a individualidade isolada e abstrata de um objeto. Também me importa destacar que a essas paisagens correspondem atos do perceber que chamo de "olhares" (invadindo, talvez ilegitimamente, diversos campos que não se referem à visualização). Esses "olhares" são atos complexos e ativos, organizadores de "paisagens", e não simples e passivos atos de recepção de informação externa (dados que chegam a meus sentidos externos) ou atos de recepção de informação interna (sensações do próprio corpo, recordações e apercepções). Além disso, nessas mútuas implicações de "olhares" e "paisagens", as distinções entre o interno e o externo estabelecem-se conforme direções da intencionalidade da consciência e não como gostaria o esquematismo ingênuo que se apresenta para os escolares.

 

6. Se o que foi dito antes está entendido, quando fale de "paisagem humana", compreender-se-á que estou me referindo a um tipo de paisagem externa constituída por pessoas e também por fatos e intenções humanas gravadas em objetos, mesmo que o ser humano como tal não esteja ocasionalmente presente.

 

7. Convém, além disso, distinguir entre mundo interno e "paisagem interna", entre natureza e "paisagem externa", entre sociedade e "paisagem humana", ressaltando que, ao mencionar "paisagem", sempre se está implicando quem olha, diferentemente dos outros casos em que mundo interno (ou psicológico), natureza e sociedade aparecem ingenuamente como existentes em si, excluídos de toda interpretação.

 

Intercâmbio

(Tempo livre)

 

Fim do dia

Ao terminar o dia, sugere-se deixar o caderno ao lado da cama para anotar os sonhos. Sugere-se dormir 7 horas e se determina o horário para o café da manhã.

 

Dia 2

 

Café da manhã

(Tempo livre)

 

Leitura em conjunto
A. Paisagem de formação (Epílogo do livro Autoliberação)

 

A. Paisagem de formação

 

Estudou-se a autobiografia pondo um ponto de ordem nas recomendações significativas de numerosos fatos ocorridos na própria vida. Consideraram-se os acidentes, as repetições e os desvios de projetos acontecidos em diferentes momentos. Muito bem, nascemos numa época na qual existiam veículos, edifícios e objetos em geral, próprios daqueles momentos; também existiam roupas e aparelhos dos quais nos utilizávamos quase cotidianamente. Era um mundo de objetos tangíveis que se foi modificando à medida que passaram os anos. Ao ver jornais e revistas, fotografias, filmes, vídeos que demostram isso, compreendemos como mudou nosso mundo nesses anos. Qualquer cidadão pode dispor de uma formidável documentação para retroceder à década ou ao ano de seu interesse.

 

Comparando, descobrimos que muitos objetos que fizeram parte do nosso ambiente infantil já não existem mais. Outros sofreram modificações que nos tornaram irreconhecíveis. Por último, foram produzidos novos objetos, dos quais não se tinha antecedentes naquela época. Basta lembrarmos dos jogos com os quais brincávamos, basta compará-los com os jogos das crianças de hoje, para entender a mudança do mundo produzida entre duas gerações.

                

Porém, também reconhecemos que mudou o mundo de objetos inatingíveis: os valores, as modificações sociais, as relações interpessoais, etc. Na nossa infância, na nossa etapa de formação, a família funcionava de um modo  diferente do atual; também a amizade, o casal, o companheirismo. Os níveis sociais tinham uma definição diferente. O que devia fazer e o que não (quer dizer, as normas da  época), os ideais pessoais e grupais à conquistar, variavam consideravelmente.

 

Em outras palavras: os objetos tangíveis e intangíveis que contituiram nossa paisagem de formação, mudaram. Porém, o que acontece é que neste mundo que mudou, mundo no qual opera uma paisagem de formação diferente para as novas gerações, tendemos a agir baseados em objetos intangíveis que já não funcionam adequadamente.

 

A paisagem de formação atua através de nós como conduta, como um modo de ser e de movermo-nos entre as pessoas e as coisas. Essa paisagem também é em tom afetivo geral, uma sensibilidade de época não concordante com a sensibilidade da época presente.

 

 A geração que hoje se encontra no poder (econômico, político, social, científico, artístico, etc.), formou-se em uma paisagem diferente da atual. Entretanto, atua nesta e impõe seu ponto de vista e seu comportamento como “arraste” de outra época. As conseqüências da não concordância geracional, estão hoje à vista. Poderá argumentar-se que a dialética geracional sempre operou e que é nosso ponto de vista, porém aqui, o que estamos destacando é que a velocidade de mudança está aumentando cada vez mais que estamos em presença de um ritmo vital muito diferente ao que se sustentava em outras épocas. Só olhando o avanço tecnológico e o impacto das comunicações no processo de mundialização, compreendemos que em nossa curta vida ocorreu uma aceleração que supera séculos completos de outro momento histórico.

 

Aqui nos encontramos com o tema da paisagem de formação, e com o qual nos cabe atuar. Chamar a atenção sobre isso parece importante nesse processo de adaptação crescente que necessitamos;  trabalhá-lo parece tarefa urgente; compartilhar com outros essas reflexões parece vital para a saúde mental de todos.

 

Reconsideremos, pois, nosso estudo autobiográfico anterior e vejamos agora a paisagem na qual nos formamos. Não a paisagem da época em geral, mas a paisagem de nosso meio imediato. Desse modo estaremos ampliando o ponto de vista de uma autobiografia um tanto subjetiva, para convertê-lo numa autobiografia situacional na qual o “eu” pessoal é na verdade uma estrutura com o mundo no qual existe.

 

 

Trabalho Individual

Resumir e sintetizar o texto da leitura.

 

Trabalho em grupos
Os objetos tangíveis da paisagem de formação

Sabemos que diversos objetos mudaram desde que éramos crianças até o dia de hoje. Em geral, mudou a paisagem na qual nossa vida se desenvolveu.

Trabalha-se em grupos pequenos, redigindo os escritos individualmente e depois trocando observações (os grupos podem ser de 3 pessoas, para dar tempo para que todos se expressem).

 

1. Relato pessoal

Efetuar um relato escrito no qual se descreve em linhas gerais a paisagem de formação que cada um viveu na infância e na adolescência, do ponto de vista dos objetos tangíveis daquelas épocas. Apoiar-se na moda, arquitetura, instrumen- tos, veículos, etc., dando apoio objetal à paisagem que se estuda.

Sugestão: não criticar nada, tentar não julgar, simplesmente descrever.

 

2. Intercâmbio

Discutir em conjunto a paisagem de formação com relação aos objetos tangíveis, comparando-os com as mudanças ocorridas até o dia de hoje.

 

Almoço

(Tempo livre)

 

Trabalho em grupos
Os valores e os intangíveis da paisagem de formação

Em grupos pequenos, redigindo os relatos individualmente e depois trocando observações (os grupos podem ser de 3 pessoas, para dar tempo para que todos se expressem).

 

1. Escrito pessoal

Efetuar um breve escrito no qual se descreve em linhas gerais a paisagem de formação que cada um viveu na infância e na adolescência, do ponto de vista dos objetos intangíveis daquelas épocas. Apoiar-se nos valores aceitos na época: o que era o bom e o mau; o que era a felicidade; como eram as hierarquias e os papéis estabelecidos; quem eram os heróis do momento (em matéria de imagens cinematográficas, musicais, esportivas, políticas, econômicas, culturais, morais); quais valores existiam na amizade, na família, no trabalho, no sexo e no estudo. Quais eram as aspirações, as frustrações e os traumas sociais da época?

Sugestão: não criticar nada, tentar não julgar, simplesmente descrever.

Seria interessante tentar resgatar a “sensibilidade”, o tom afetivo geral daquela paisagem de formação, porque hoje essa sensibilidade mudou e quando duas gerações se sentam frente ao mesmo programa de TV, as respostas emotivas são muito diferentes. Em nossa paisagem de formação, também atuava um pano de fundo emotivo que nos fazia vibrar e que hoje pode ser até chocante para alguém mais jovem.

 

2. Intercâmbio

Discutir em conjunto a paisagem de formação com relação aos intangíveis e valores daquelas épocas, comparando-os com as mudanças ocorridas até o dia de hoje.

(Tempo livre)

 

Leitura em conjunto
B. O “olhar” próprio e o de outros como determinantes de conduta na paisagem de formação (Epílogo do livro Autoliberação) Trabalho individual

Resumir e sintetizar o texto da leitura.

 

B. O “olhar” próprio e o dos outros, como determinantes de conduta na paisagem de formação

 

            São numerosos os fatores que atuam em nós para ir produzindo um comportamento pessoal ao longo do tempo, uma codificação com base na qual damos resposta e nos ajustamos ao meio. O estudo dos círculos de personalidade e prestígio, permitiu nos aproximarmos dessa idéia.

 

  Se estudamos nossa biografia desde um ponto de vista situacional, teremos comprovados que frente ao nosso meio de formação, atuávamos nele de maneira característica. Em relação aos nossos valores estabelecidos contra eles, ou as aceitávamos, ou nos voltávamos sobre nós mesmos, Assim íamos formando conduta no mundo de relações, porém existiam, além disso, reajustes contínuos. Olhávamos esse mundo e olhávamos as outras pessoas enquanto atuávamos. Reconsiderávamos nossa ação, propondo-nos novas condutas, novos ajustes.. Paralelamente, éramos “olhados” por outros que nos alentavam ou nos reprovavam. Desde aí, existia um “olhar” institucional próprio do sistema legal; também um “olhar” próprio das convenções e dos costumes. Também existia para alguns um “olhar” mais complexo. Um olhar externo, mas que nos prescutava não somente em nosso comportamento externo, mas em nossas intenções mais profundas. Era o olhar de Deus. Para outros, era o olhar da própria “consciência”, entendida como uma disposição moral do pensamento e da conduta.

 

  O próprio olhar sobre o mundo e os olhares alheios sobre si mesmo, atuavam como reajustes de conduta e graças a tudo isso foi se formando um comportamento. Hoje já contamos com um enorme sistema de códigos cunhados (gravados) em nossa época de formação. Nossa conduta responde a ele e se aplica a um mundo que, entretanto mudou.

 

 

C. O “arraste” de condutas da paisagem de formação no momento atual.

 

  Numerosas condutas fazem parte do comportamento típico atual. A essas condutas podemos entender como “táticas” que utilizamos para desenvolvermo-nos no mundo. Muitas dessas táticas se mostraram adequadas até agora, porém outras que reconhecemos como inoperantes ou até como geradoras de conflito. Convém discutir brevemente isso.

  Por que haveria de  continuar empregando táticas que reconheço como ineficazes ou contraproducentes? Por que sinto sobrepujado por essas condutas que operam automaticamente? Apelaremos ao termo que tomaremos  emprestado da psicologia clássica para nos referirmos a essas forças íntimas que nos obrigam a atuar apesar de nossa vontade, ou nos inibem a ação quando queremos realizá-la. O termo que usaremos é “compulsão”.

                  Conhecemos numerosas compulsões que atuam em nós. O sistema de autoliberação é, em grande parte, uma ferramenta de superação de compulsões contraproducentes. De maneira que trabalhamos mais que suficientemente sobre este particular. Porém, é hora de aplicar um olhar situacional e compreender que, aparte dos fatores subjetivos que atuam, como: tensões, climas, imagens, etc., existem condutas  gravadas e já codificadas em nossa etapa de formação, que se mostraram mais ou menos eficazes aquelas épocas, mas hoje já não funcionam adequadamente. Devemos revisar tudo isso desde suas raízes e renovar-nos frente às exigências dos novos tempos.

 

D. Propostas de um autoconhecimento situacional.

 

  Retome os trabalhos autobiográficos e abra um novo capítulo onde desenvolvera a situação que lhe tocou viver em sua infância e depois em sua adolescência. Não se preocupe com perfeccionismos. Reconstrua sua paisagem de formação, em traços gerais, pondo ênfase não nos objetos tangíveis daquela época, mas nos intangíveis. Observe sua estrutura familiar e os valores que nela tinham vigência: aquilo que era bem visto e o que era reprovado. Observe as hierarquias e as relações estabelecidas. Não critique nada, trata de não julgar... simplesmente descreva.

 

 Descreva agora os objetos intangíveis que se apresentam nas relações com seus amigos. Não julgue.

 

   Descreva agora os inatingíveis que operavam em sua escola, na relação com outro sexo, no meio social em que lhe tocava atuar. Não julgue.

 

  Uma vez feito isso, sintetize como era essa paisagem apoiando-se em modas, edificações, instrumentos, veículos, etc., dando apoio dos objetos a essa paisagem de formação. Não julgue.

 

  Por último, resgate a “sensibilidade”, o tom afetivo geral dos momentos mais importantes de sua paisagem de formação. Talvez a música. os heróis do momento, a roupa cobiçada, os ídolos do mundo dos negócios, da política, do cinema, do esporte, lhe sirva como referência para captar o tom afetivo que como transfundo no mundo que o circundava. Não julgue.

 

  Examine agora como “olhava” tudo aquilo e como era “olhado” pelos membros desse mundo. Recorde como julgava tudo aquilo e a maneira como reagia. Não julgue desde seu “hoje”, faça-o desde aquela época. Como era seu choque, sua fuga, sua retirada, sua aceitação? Se responder a isso, estará fazendo-o com referência às condutas que se foram formando em você naquelas épocas. Descreva de que maneira a julgou e era julgado e com que relações atuava naquela paisagem. Porém não diga agora se aquilo estava bem ou mal. Simplesmente descreva.

 

  Estamos agora em condições de compreender como aquelas condutas e aquele tom afetivo geral chegava até aqui,  até o dia de hoje. Estude pois o “arraste” daquelas  épocas em matéria de ação e de “sensibilidade”. Não se deixe desorientar pela modificação de suas condutas, já que muitas delas conservam a mesma estrutura, ainda que se tenham sofisticado consideravelmente ao longo do tempo.

 

  Compreenda que muitas “táticas” foram melhorando, porém que outras ficavam fixas, sem adaptação crescente. Estude a relação dessas condutas fixas, dessas táticas, como o tipo de sensibilidade daquela época. Comprove se intimamente está disposto a abandonar aquela sensibilidade, que evidentemente envolve avaliações que você mantém de pé.

 

  Chegamos a um momento de profunda meditação. Não estamos sugerindo que você abandone os valores e a sensibilidade de sua etapa de formação. Estamos falando de algo diferente; de compreender como tudo aquilo opera em seu momento atual. É você quem deve decidir, e ferramentas não lhe faltam, para produzir as mudanças que você fizer, serão estruturais e situacionais, não mais subjetivas, porque você está questionando a relação global com o mundo em que vive.

 

  Caracterizamos o trabalho anterior não como uma prática a mais, mas como uma meditação sobre a própria vida. Do contexto do exposto percebe-se que não estamos tratando de modificar algumas táticas indesejáveis, mas de expor ante os próprios olhos a verdade da relação pessoal com o mundo. De fato que a essa altura se está em condições de compreender as raízes de numerosas compulsões associadas às  condutas ligadas a valores e a uma determinada sensibilidade, dificilmente poderá ser efetuada sem tocar a estrutura de relação global com o mundo em que se vive atualmente. Compreendido o problema, há que se decidir, quais são as táticas a modificar porque são consideradas inadequadas. Esta última pretensão poderá satisfazer-se mediante a aplicação de diversas técnicas que temos estudado. Mas, o que se pode ganhar se não se está disposto a mudanças estruturais? no mínimo, obteremos vantagens ao ampliar o conhecimento sobre nós mesmos; e no que 0diz respeito à mudanças radicais, a situação que nos toca viver atualmente é a que nos leva a decidir em uma ou outra direção. Por outro lado, as situações variam e o futuro mostrará talvez, necessidades que atualmente não são suficientemente sentidas por nós.

 

 

Trabalho em grupos
O olhar próprio e o alheio

 

 Em grupos pequenos, redigindo os relatos individualmente e depois trocando observações (os grupos podem ser de 3 pessoas, para dar tempo para que todos se expressem).

 

1. Escrito pessoal

Efetuar um breve relato onde se desenvolve a situação que cada um viveu na in- fância e na adolescência. Reconstruir a paisagem de formação em linhas gerais, colocando ênfase no “olhar” que os outros tinham sobre cada um e no “olhar” que se tinha sobre os demais. Como se era visto em sua família, trabalho, estu- dos, amizades, outras relações emotivas e sexuais. Como cada um via sua família, trabalho, estudo, amizades, outras relações emotivas e sexuais. Perguntar-se: que tipo de vida eu deveria me preparar para conseguir (do ponto de vista dos demais e do seu próprio ponto de vista)?

Examinemos como se “olhava” tudo aquilo e como era “olhado” pelos integran- tes desse mundo. Recordemos a forma com que se julgava tudo aquilo e o modo como reagia. Como era nosso choque, nossa fuga, nosso recolhimento, nosso acordo? Se respondermos a isso, estaremos fazendo com referência a condutas que foram se formando em nós naquelas épocas. Descrevamos de que maneira julgávamos e éramos julgados e com que papéis atuávamos naquela paisagem.

Sugestão: não avalie agora se aquilo era bom ou ruim. Simplesmente descreva.

 

2. Intercâmbio

Discutir em conjunto o “olhar” pessoal e social naquela paisagem de formação e as condutas que foram se formando em cada um naquelas épocas.

 

Almoço

(Tempo livre)

 

Fim do dia

 

 

Dia 3

 

Café da manhã

(Tempo livre)

 

Leitura em conjunto
C. O “arraste” de condutas da paisagem de formação no momento atual

(Epílogo do livro Autoliberação) Trabalho individual

Resumir e sintetizar o texto da leitura.

 

C. O “arraste” de condutas da paisagem de formação no momento atual.

 

    Numerosas condutas fazem parte do comportamento típico atual. A essas condutas podemos entender como “táticas” que utilizamos para desenvolvermo-nos no mundo. Muitas dessas táticas se mostraram adequadas até agora, porém outras que reconhecemos como inoperantes ou até como geradoras de conflito. Convém discutir brevemente isso.

 

  Por que haveria de  continuar empregando táticas que reconheço como ineficazes ou contraproducentes? Por que sinto sobrepujado por essas condutas que operam automaticamente? Apelaremos ao termo que tomaremos  emprestado da psicologia clássica para nos referirmos a essas forças íntimas que nos obrigam a atuar apesar de nossa vontade, ou nos inibem a ação quando queremos realizá-la. O termo que usaremos é “compulsão”.

 

  Conhecemos numerosas compulsões que atuam em nós. O sistema de autoliberação é, em grande parte, uma ferramenta de superação de compulsões contraproducentes. De maneira que trabalhamos mais que suficientemente sobre este particular. Porém, é hora de aplicar um olhar situacional e compreender que, aparte dos fatores subjetivos que atuam, como: tensões, climas, imagens, etc., existem condutas  gravadas e já codificadas em nossa etapa de formação, que se mostraram mais ou menos eficazes aquelas épocas, mas hoje já não funcionam adequadamente. Devemos revisar tudo isso desde suas raízes e renovar-nos frente às exigências dos novos tempos.

 

Trabalho em grupos

 Em grupos pequenos, redigindo os relatos individualmente e depois trocando observações (os grupos podem ser de 3 pessoas, para dar tempo para que todos se expressem).

 

O “arraste” do passado 1. Escrito pessoal

Efetuar um breve relato onde se desenvolve a situação que cada um vive atualmente com relação aos novos objetos tecnológicos e com relação aos novos valores.

O que é hoje prioritário, o que é hoje secundário? Para que tipo de vida cada um deve estar preparado? Considerar o “arraste” de sensibilidade de outra época e de valorações de outra época que não coincidem com o mundo de hoje.

Estamos agora em condições de compreender como aquelas condutas e aquele tom afetivo chegaram até aqui, até o dia de hoje. Estudemos, então, o “arraste” daquelas épocas em matéria de ação e de “sensibilidade”. Não devemos nos deso- rientar por algumas modificações que foram acontecendo em nossas condutas, já que muitas delas conservam a mesma estrutura, mesmo que tenham se tornado consideravelmente mais complexas ao longo do tempo.

 

2. Intercâmbio

 

Discutir em conjunto quais tipos de atividades, costumes, ideias e sensibilidade de outra época e com as quais atuamos não se adaptam à situação atual.

 

As mudanças de conduta

 

 

Trabalho em grupos

 

1. Escrito pessoal

Efetuar um breve relato onde se desenvolve a situação em que se vive com rela- ção à contradição entre os valores e condutas que cada um sustenta e que não se adaptam ao mundo atual. Estudar quais tipos de mudanças seria necessário produzir em si mesmo no que diz respeito a valores e condutas.

Podemos considerar estes trabalhos como uma meditação ordenada sobre a pró- pria vida. Com o realizado até agora, deduz-se que não estamos tentando modi- ficar algumas táticas indesejáveis, mas expor diante dos próprios olhos a verdade da relação pessoal com o mundo. Sendo assim, a essa altura, estamos em con- dições de compreender as raízes de diversas compulsões associadas a condutas iniciadas na paisagem de formação. Entretanto, a mudança de condutas ligadas a valores e a determinada sensibilidade dificilmente pode ser realizada sem tocar a estrutura da relação global com o mundo em que se vive atualmente. Compre- endido o problema, será necessário decidir, se não se deseja uma mudança estru- tural do comportamento, quais são as táticas a modificar. Esta última pretensão poderá ser realizada com um pouco de trabalho e persistência na nova direção que cada um se proponha. Mas, o que se pode ganhar, se não há disposição para mudanças estruturais? No mínimo, obteremos vantagens ao ampliar o conhe- cimento sobre nós mesmos e, no que diz respeito à necessidade de mudanças radicais, a situação em que vivemos neste momento é que nos decidirá em uma ou em outra direção. Por outro lado, as situações mudam e o futuro disporá, talvez, de exigências que atualmente não são suficientemente sentidas por nós. Compreendamos que muitas “táticas” foram melhorando, mas outras foram fican- do fixas, sem adaptação crescente. Estudemos a relação dessas condutas fixas, dessas táticas, com o tipo de sensibilidade que esta época impõe. Comprovemos se intimamente estamos dispostos a abandonar aquela sensibilidade que, desde já, implica valorações que cada um mantém em pé.

 

Almoço

(Tempo livre)

 

2. Intercâmbio

Discutir em conjunto o tema da adaptação crescente com relação ao momento atual.

(Tempo livre)

 

Leitura em conjunto
D. Proposta de um autoconhecimento situacional

- Leitura do ponto D desde o parágrafo: “Chegamos a um momento de profunda meditação...” até o final.

 

D. Propostas de um autoconhecimento situacional.

 

            Retome os trabalhos autobiográficos e abra um novo capítulo onde desenvolvera a situação que lhe tocou viver em sua infância e depois em sua adolescência. Não se preocupe com perfeccionismos. Reconstrua sua paisagem de formação, em traços gerais, pondo ênfase não nos objetos tangíveis daquela época, mas nos intangíveis. Observe sua estrutura familiar e os valores que nela tinham vigência: aquilo que era bem visto e o que era reprovado. Observe as hierarquias e as relações estabelecidas. Não critique nada, trata de não julgar... simplesmente descreva.

 

  Descreva agora os objetos intangíveis que se apresentam nas relações com seus amigos. Não julgue.

 

Descreva agora os inatingíveis que operavam em sua escola, na relação com outro sexo, no meio social em que lhe tocava atuar. Não julgue.

 

  Uma vez feito isso, sintetize como era essa paisagem apoiando-se em modas, edificações, instrumentos, veículos, etc., dando apoio dos objetos a essa paisagem de formação. Não julgue.

 

  Por último, resgate a “sensibilidade”, o tom afetivo geral dos momentos mais importantes de sua paisagem de formação. Talvez a música. os heróis do momento, a roupa cobiçada, os ídolos do mundo dos negócios, da política, do cinema, do esporte, lhe sirva como referência para captar o tom afetivo que como transfundo no mundo que o circundava. Não julgue.

 

  Examine agora como “olhava” tudo aquilo e como era “olhado” pelos membros desse mundo. Recorde como julgava tudo aquilo e a maneira como reagia. Não julgue desde seu “hoje”, faça-o desde aquela época. Como era seu choque, sua fuga, sua retirada, sua aceitação? Se responder a isso, estará fazendo-o com referência às condutas que se foram formando em você naquelas épocas. Descreva de que maneira a julgou e era julgado e com que relações atuava naquela paisagem. Porém não diga agora se aquilo estava bem ou mal. Simplesmente descreva.

 

  Estamos agora em condições de compreender como aquelas condutas e aquele tom afetivo geral chegava até aqui,  até o dia de hoje. Estude pois o “arraste” daquelas  épocas em matéria de ação e de “sensibilidade”. Não se deixe desorientar pela modificação de suas condutas, já que muitas delas conservam a mesma estrutura, ainda que se tenham sofisticado consideravelmente ao longo do tempo.

 

  Compreenda que muitas “táticas” foram melhorando, porém que outras ficavam fixas, sem adaptação crescente. Estude a relação dessas condutas fixas, dessas táticas, como o tipo de sensibilidade daquela época. Comprove se intimamente está disposto a abandonar aquela sensibilidade, que evidentemente envolve avaliações que você mantém de pé.

 

  Chegamos a um momento de profunda meditação. Não estamos sugerindo que você abandone os valores e a sensibilidade de sua etapa de formação. Estamos falando de algo diferente; de compreender como tudo aquilo opera em seu momento atual. É você quem deve decidir, e ferramentas não lhe faltam, para produzir as mudanças que você fizer, serão estruturais e situacionais, não mais subjetivas, porque você está questionando a relação global com o mundo em que vive.

 

  Caracterizamos o trabalho anterior não como uma prática a mais, mas como uma meditação sobre a própria vida. Do contexto do exposto percebe-se que não estamos tratando de modificar algumas táticas indesejáveis, mas de expor ante os próprios olhos a verdade da relação pessoal com o mundo. De fato que a essa altura se está em condições de compreender as raízes de numerosas compulsões associadas às  condutas ligadas a valores e a uma determinada sensibilidade, dificilmente poderá ser efetuada sem tocar a estrutura de relação global com o mundo em que se vive atualmente. Compreendido o problema, há que se decidir, quais são as táticas a modificar porque são consideradas inadequadas. Esta última pretensão poderá satisfazer-se mediante a aplicação de diversas técnicas que temos estudado. Mas, o que se pode ganhar se não se está disposto a mudanças estruturais? no mínimo, obteremos vantagens ao ampliar o conhecimento sobre nós mesmos; e no que 0diz respeito à mudanças radicais, a situação que nos toca viver atualmente é a que nos leva a decidir em uma ou outra direção. Por outro lado, as situações variam e o futuro mostrará talvez, necessidades que atualmente não são suficientemente sentidas por nós.

 

E. A planificação do futuro encarada de um ponto de vista integral (Epílogo do livro Autoliberação)

- Leitura do ponto E completo.

 

E. A planificação do futuro encarada desde um ponto de vista integral.

 

  Quando falamos de planificação, estamo-nos referindo à questões de máximo interesse para a direção de nossa vida. Existem numerosas técnicas de planificação que vão desde um fluxograma para a elaboração de um programa de computador até a estratégia a desenvolver numa empresa, na vida política, social e cultural. Porém, não vamos considerar esses casos, mas aqueles que se referem a orientação da vida. Neste campo existe bastante confusão. Assim, por exemplo,  um casal planifica seu futuro: aspira a uma vida plena de compreensão e acordo, quer realizar uma existência compartilhada e definitiva.. Como esses planificadores são gente prática, não deixa de calcular questões de ganho, gastos, etc. Ao passar cinco anos, comprovam que a planificação resultou adequada. Os ganhos foram exitosos e conseguiram numerosos objetos que antes desejavam, etc. Todo o tangível resultou melhor ainda que o previsto. Ninguém em sã consciência falaria de um fracasso de planejamento. Mas, é claro que deve-se determinar se os intangíveis que eram a base do plano  a desenvolver se conseguiram plenamente. Em matéria de prioridades o primeiro era a vida em casal, plena de compreensão e acordo; os objetos tangíveis eram secundários para a obtenção desse resultado na prática. Se as coisas foram dessa maneira, o plano vital resultou em êxito se as prioridades se inverteram ou o tempo mais importante desapareceu de cena, o planejamento fracassou. Este é o caso de um planejamento de vida de certa importância no qual os objetos intangíveis devem ser levados em conta. Não ocorre o mesmo com um fluxograma, nem com uma estratégia empresarial.

 

 Finalmente, a ninguém, ocorreria planificar sua vida em estado de ofuscamento ou alteração, quer dizer, em estado de compreensão interna evidente. Levando o exemplo ao grotesco, digamos que todo mundo compreende que certas planificações podem sair mais ou menos bem ainda que feitas em estado de embriaguez, porém não parece o nível de consciência mais adequado para projeções razoáveis a médio e longo prazo. Em outras palavras, num planejamento adequado será conveniente compreender desde “onde” é feito, qual é a direção mental que traça o caminho do plano. Como não perguntar-se se um planejamento está ditado pelas mesmas compulsões que até esse momento tem guiado numerosos desacertos na ação? Concluamos com a planificação da vida desde um ponto de vista integral: devem  estar claramente expostas às prioridades; deve se distinguir entre tangíveis e intangíveis a obter; fixar-se aos prazos e indicadores intermediários e, desde já, convém esclarecer qual é a direção mental desde onde se lança o projeto, observando se trata-se de uma compulsão ou desde um cálculo razoável ajustado a consecução do objetivo.

 

Trabalho individual

Resumir e sintetizar os textos de leitura.

 

Trabalho pessoal 1. Relato escrito

Aqueles que queiram empreender esta tarefa, deveriam traçar um pequeno plano de conduta a exercitar a partir de hoje. Já chegará o momento, se houver bons resultados, de realizar trabalhos de maior envergadura.

 

2. Intercâmbio

Discutir em conjunto um plano simples de mudança, a fim de recolher pontos de vista dos demais.

 

Leitura em conjunto

Leitura da “Terceira carta a meus amigos” (Silo, Obras Completas I, Cartas a meus amigos).

 

Trabalho individual

Resumir e sintetizar as compreensões obtidas neste retiro.

 

Encerramento do retiro com uma confraternização.

 

Bibliografia

Luis A. Ammann, Autoliberação Silo, Obras Completas, Volume I