Retiro

Espaço de Representação

 

 

Este retiro tem duração de dois dias e duas noites e compreende o estudo da teoria do Espaço de Representação, complementado com a prática de algumas experiências guiadas. Sempre que possível, recomenda-se realizá-lo no Centro de Trabalho de um de nossos Parques de Estudo e Reflexão.

 

Dia 1

Chegada na parte da manhã. Depois de organizar os âmbitos e as questões lo- gísticas, começa-se com uma breve introdução sobre o plano do dia e se destaca a importância de trabalhar com um tom amável, sem pressa e com muito tempo dedicado ao intercâmbio.

 

Enquadre

Este retiro tem como objetivo explorar o tema do Espaço de Representação, através do estudo de textos relativos ao tema e da realização de algumas experi- ências guiadas que ajudarão a conhecê-lo e compreendê-lo na prática.

 

Leituras

Na conferência sobre as Experiências Guiadas, Silo finaliza afirmando:

“Enquanto se continue considerando a imagem como uma simples cópia da percep- ção, enquanto se continue acreditando que a consciência em geral mantém uma atitude passiva frente ao mundo, respondendo a ele como reflexo, não poderemos responder nem às perguntas anteriores nem a outras, na verdade, fundamentais.

Para nós, a imagem é uma forma ativa de a consciência colocar-se (como estrutura) no-mundo. Ela pode atuar sobre o próprio corpo e o corpo no-mundo, dada a intencionalidade que se dirige fora de si e não responde simplesmente a um para si ou a um em si natural, reflexo e mecânico. A imagem atua em uma estrutura espaço-temporal e em uma ‘espacialidade’ interna que chamamos, justamente, de ‘espaço de representação’. As diferentes e complexas funções com as quais a imagem cumpre dependem, em geral, da posição que assume em tal espacialidade. A justificação plena disso que afirmamos exige a compreensão de nossa teoria da consciência e, por isso, remetemos a nosso trabalho sobre Psicologia da Imagem.”

 

Em Psicologia da Imagem (Silo, Obras Completas, Volume I, Contribuições ao pen- samento, Psicologia da imagem, Capítulo I. “Problema do espaço no estudo dos fenômenos de consciência”), o autor expõe o tema do “registro interno do ocorrer a imagem em algum ‘lugar’” com a ajuda de alguns exemplos práticos. Sugestão: para entender melhor o que aqui se diz, propõe-se aos participantes repetirem as operações expostas no texto a seguir.

 

“Esse teclado que tenho diante de meus olhos, no acionar de cada tecla, vai im- primindo um caractere gráfico que visualizo no monitor conectado a ele. Associo o movimento dos meus dedos a cada letra e automaticamente as frases e sentenças surgem, seguindo meu pensamento. Fecho os olhos e deixo de pensar no discurso anterior para me concentrar no teclado. De algum modo, tenho-o ‘diante de mim’, representado em imagens visuais, quase decalcado da percepção que tinha antes de fechar os olhos. Levanto-me da cadeira, dou alguns passos pelo quarto, fecho novamente os olhos e, ao lembrar do teclado, imagino-o em linhas gerais às mi- nhas costas, já que se quero observá-lo tal qual se apresentou anteriormente à mi- nha percepção, devo localizá-lo em uma posição ‘diante de meus olhos’. Para isso, ou giro mentalmente meu corpo ou ‘transporto’ a máquina do ‘espaço externo’, até colocá-la à minha frente. A máquina agora está ‘diante de meus olhos’, mas produzi um deslocamento do espaço, já que na minha frente, se abro os olhos, verei uma janela.

 

Tornou-se evidente para mim que a localização do objeto na representação se localiza em um ‘espaço’ que pode não coincidir com o espaço em que se deu a percepção original.

Posso, além disso, imaginar o teclado colocado na janela que tenho na minha frente e distanciar ou aproximar o conjunto.

 

Se for o caso, posso aumentar ou diminuir o tamanho de toda a cena ou de algum de seus componentes; também posso deformar esses corpos e, por último, nada impede que mude sua cor.

Porém, descubro algumas impossibilidades. Não posso, por exemplo, imaginar esses objetos sem cor, por mais que os torne ‘transparentes’, já que essa ‘trans- parência’ marcará contornos ou diferenças precisamente de cor ou ‘sombreados’ distintos. É claro que estou comprovando que extensão e cor são conteúdos não independentes e, por isso, tampouco posso imaginar uma cor sem extensão. Isso é, precisamente, o que me faz pensar que, se não posso representar a cor sem extensão, a extensão da representação denota também a ‘espacialidade’ em que se localiza o objeto representado. É essa espacialidade que nos interessa.”

 

Pausa Comentários

 

Em termos simples, dizemos que o espaço de representação é uma espécie de tela mental tridimensional em que se configuram as imagens formadas a partir dos estímulos sensoriais, da memória e da atividade da própria consciência.

 

Esse espaço de representação está formado pelo conjunto das representações interiores do próprio sentido cenestésico, que, por sua vez, corresponde a todos os sinais do corpo. Portanto, podemos dizer que o espaço de representação é a soma de todos os sinais que o corpo envia para o cérebro e, nesse sentido, que o espaço de representação é como um segundo corpo.

 

Para descrever sinteticamente a estrutura do espaço de representação, dizemos que ele possui dois níveis de profundidade: um nível no qual se situam os fenô- menos do mundo interior ao corpo e um segundo nível no qual se situam os fenô- menos externos ao corpo. Por exemplo: exercício com a esfera no centro do peito e exercício de movimento de uma parte do corpo para tocar um objeto externo.

No espaço de representação, além disso, podemos distinguir três planos diferen- tes: alto, médio e baixo.

 

Finalmente, essa estrutura de duas profundidades e três planos varia de acordo com o nível de consciência atuante.

 

O anterior pode ser experimentado graças ao trabalho com as imagens que co- nhecemos como Experiências Guiadas. Além disso, as práticas de Operativa (do livro Autoliberação), conhecidas como Catarse, Transferências e Autotransferên- cias, permitem alcançar maior profundidade de compreensão.

Hoje, começaremos a trabalhar com algumas Experiências Guiadas conhecidas como Jogos de Imagens. Essas experiências permitem reconhecer a dinâmica das imagens. Com sua repetição, superando paulatinamente as dificuldades ou re- sistências encontradas, é possível liberar a dinâmica da imagem. Nesse sentido, estamos “provando” nossos circuitos. Ao mesmo tempo, poderemos reconhecer por experiência como o espaço de representação está estruturado.

Como sempre, daremos prioridade à qualidade do trabalho realizado em profundi- dade, com tempo e muito intercâmbio; dispomos de bastante tempo para realizar todo o proposto

 

Práticas

Passa-se a realizar as Experiências Guiadas.

Para cada prática, segue-se o mesmo procedimento em todo o retiro (apoiando-se no anexo correspondente ao retiro sobre as Experiências Guiadas).

Primeiro, lê-se o interesse de cada Experiência Guiada.
Faz-se um relaxamento completo (cada vez de forma mais rápida e solta). Realiza-se a Experiência Guiada (lida pelo diretor ou reproduzida em áudio). Cada participante toma suas notas pessoais sobre a experiência realizada. Intercâmbio dirigido ao nó da experiência em pequenos grupos. Recomenda-se fazer uma pausa antes da Experiência Guiada seguinte.

 

Primeira sequência

 

O trenó

A descida

A subida

Avanços e retrocessos

 

Almoço

(Tempo livre)

 

Intercâmbio

Sobre o que se descobriu com relação às dinâmicas mentais que devem ser me- lhoradas e a estrutura do espaço de representação.

 

Segunda sequência

O mineiro
O limpador de chaminés Os disfarces
As nuvens

 

Jantar

(Tempo livre)

 

Leitura

Sobre o enigma da percepção (Silo, Obras Completas, Volume I, Fala Silo) Síntese do primeiro dia

Ao término do dia, cada participante resume e sintetiza a jornada com relação a aprendizagem, impedimentos, descobertas (o que não sabia), compreensões (o que entendi por experiência), projeções (o que necessito fazer de hoje em diante).

Ao concluir o dia, sugere-se colocar o caderno do lado da cama para anotar os sonhos. Sugere-se dormir 7 horas e definir o horário para o café da manhã.

 

Dia 2

Depois do café da manhã, realiza-se um intercâmbio sobre o dia anterior e os sonhos, estabelecendo relações com os trabalhos realizados.

 

Estudo

Em grupos de três ou quatro participantes, estuda-se e realiza-se um intercâmbio sobre o capítulo “Espaço de Representação” de Psicologia II (Silo, Obras Comple- tas, Volume II, Apontamentos de Psicologia).

Depois, realiza-se um intercâmbio em conjunto sobre as possíveis dúvidas.

 

Almoço

(Tempo livre)

A tarde será dedicada à realização de três Experiências Guiadas sobre temas dife- rentes: a primeira, de reconciliação com o passado; a segunda, de localização no presente; e a terceira, de experiência sobre o sentido da vida. Esses três interes- ses guiam o praticante para três planos diferentes do espaço de representação: o baixo, o médio e o alto, cada um com suas traduções de impulsos características, diferentes tipos de luminosidade e relações com os três tempos de consciência – passado, presente e futuro.

Observando-se a forma de trabalho do dia anterior, hoje realizam-se as seguintes Experiências Guiadas:

O par ideal
A protetora da vida A viagem

 

Síntese pessoal

Cada participante faz seu resumo e síntese dos dois dias de retiro, considerando os descobrimentos, compreensões e projeções.

 

Leitura (opcional) de cada síntese para o conjunto.

 

Encerramento do retiro com uma confraternização.

 

Bibliografia

Silo, Obras Completas, Volume I, Experiências Guiadas
Silo, Obras Completas, Volume I, Fala Silo
Silo, Obras Completas, Volume II, Apontamentos de Psicologia Luis Ammann, Autoliberação